Em uma série especial, o Jornal eletrônico Midiamax foi ao município aqui da região Conesul para conhecer os desafios da coidade que concentra a maior população indígena de Mato Grosso do Sul em relação a não indígena.
Ao todo, são 4.170 indígenas, o que representa 57,81% da população. De um pequeno lugarejo, fundado em meados de 1953 por famílias do interior paulista interessadas no domínio de terras, a cidade foi crescendo por meio da agricultura e também margeada pelo Rio Iguatemi. Em meio à natureza, estão os indígenas, que lutam diariamente para preservar sua cultura e sobreviver ao "mundo moderno".
Atento às demandas da população, o cacique da aldeia Porto Lindo, Roberto Carlos, de 42 anos, diz que muitos são os desafios enfrentados pela população indígena residente no município.
“Pela minha experiência, posso dizer que nós, indígenas, carregamos uma cicatriz de 1.523 anos na nossa vida. Hoje, sentimos que é muito difícil ser índio e, com isso, carregamos uma tristeza profunda de 1.523 anos. A gente é discriminado, maltratado, ameaçado e isolado. Só que também falo que somos valentes demais, principalmente porque tem índio que ultrapassa toda essa barreira e vai estudar”, afirmou o cacique.
Conforme o cacique, após luta conjunta da própria aldeia e o executivo municipal, parte dos indígenas estão empregados. “Destes 6 mil, 250 são funcionários públicos, cerca de 300 estão no frigorífico Frango Bello, 90 no frigorífico de Iguatemi, 30 em uma empresa fabricante de sapatos, 23 prestando serviço na Teston, que é de plantio de cana-de-açúcar e mais 10 parentes indígenas no frigorífico de Naviraí”, explicou.
Guaranis, terenas e kaiowás trabalhando: ainda conforme o cacique, não há discriminação de raça entre os “irmãos indígenas e os irmãos brancos”, os quais recebem muitas oportunidades na aldeia.
“Aqui todo mundo trabalha. Tem os brancos também, que fazem pinturas, construções e perfuram poços. A gente gera muito emprego aqui, com instalações de tecnologia, por exemplo. Não há preconceito e, quem tem, é porque não conhece a história e nem se conhece”, lamentou o cacique.
De acordo com Roberto Carlos, a história é clara quando diz que os portugueses descobriram o Brasil, em um grupo só de homens, tendo as mulheres indígenas como companheiras.
“Quem estava aqui de mulher para reproduzir? E muitos falam: a minha avó foi pega no laço, minha mãe, vó, bisavó, era indígena, ou seja, a geração brasileira é indígena. A mãe brasileira é indígena. Só o pai é estrangeiro. Somos gerações de fruto indígena, então, sempre digo que as pessoas precisam se autoconhecer. Quem sou eu? Vou estudar um pouco a história da minha mãe. Onde que nasceu, que brotou, aí vão chegar aqui, nos indígenas”, argumentou.
Por conta da falta de conhecimento, muitos discriminam, não oferecem oportunidades e é por isso que parte dos indígenas buscam refúgio em vícios. “Infelizmente, a droga chegou aqui na aldeia também. E como o preconceito, o índio sempre é visto como alcoólatra, drogado, vagabundo, só que aqui, 90% da população são agricultores, sabem trabalhar, só não tem oportunidade”, garantiu.
Até pouco tempo, segundo o cacique, a entrada da aldeia estampava uma placa, onde dizia: "Proibida a entrada de pessoas estranhas". "Ou seja, proibiam a entrada de quem queria e poderia vir nos ajudar. Aqui nós morremos de fome, de doenças, ninguém vem nos ajudar e quem está do lado de fora fala que isso é tudo é a nossa cultura, só para não nos ajudar, então, é por isso também que temos casos de uso de drogas, alcoolismo e suicídio. Estamos tristes, vendendo almoço para comprar a janta e, muitos índios valentes, foram estudar, buscar conhecimento e retornam para ajudar e fazer o serviço formiguinha, então, hoje, o que pensamos é que muitos não veem futuro na vida", finalizou.